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2018/11/11 'Aceito o que a Natureza e o tempo me impõem',... O Globo Ela Rita_Lee RJ

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'Aceito o que a Natureza e o tempo me impõem', diz Brigitte Bardot em entrevista a Rita Lee

Cantora brasileira realizou o sonho de conversar com sua 'deusa-mor' sobre causa animal, cinema e política

Brigitte Bardot foi entrevista por Rita Lee Foto: Arquivo Pessoal
Brigitte Bardot foi entrevista por Rita Lee Foto: Arquivo Pessoal

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Não contive o grito de alegria quando La Bardot topou me dar uma entrevista. Minha deusa-mor no panteão dos maiores ídolos do cinema, que hoje vive reclusa dedicando sua vida à causa animal, teve a delicadeza de me conceder uns minutos do seu tempo. Uma vez majestade, sempre majestade.

 

RITA LEE: Você nos dá um panorama de suas lutas em seu novo livro “Lágrimas de combate” (Globo Livros). Conta uma série de histórias de emocionar a todos nós, defensores dos animais. De todas as batalhas, qual foi a mais difícil até hoje?

BRIGITTE BARDOT: Todas as batalhas são difíceis. Não há hierarquia para a dor dos animais. Mas o que ficará marcado para sempre como o mais inesquecível é o combate contra o massacre das focas, que foi uma vitória conquistada depois de 30 anos de espera.

Você conta um pouco de sua rotina diária no livro. Diz que entende seus bichos mais do que o seu veterinário! Como explica sua ligação com eles?

É o mistério que existe entre a mãe e seus filhos.

O cinema foi para você o que a música foi para mim: andar sempre à beira do abismo?

O cinema foi uma ajuda formidável para me tornar a celebridade que hoje eu coloco a serviço dos animais. Quando fazia cinema, me dedicava profundamente a ele, assim como a tudo que realizei, a fim de ser a melhor e vencer no que me propus a fazer.

Por que nunca topou fazer filmes em Hollywood?

Porque isso nunca me agradou.

Você se mantém linda e digna sem recorrer a procedimentos estéticos. Quando percebeu que esse seria seu caminho?

Eu sou uma mulher natural, aceito o que a Natureza e o tempo me impõem.

Rita Lee, em 1976 Foto: Bob Wolfenson
Rita Lee, em 1976 Foto: Bob Wolfenson

 

Como entende Deus através dos animais?

Cada um de nós imagina Deus de uma maneira diferente: será que Ele existe? Será que Ele não existe? Mas, no meu imaginário, penso que Ele deu aos animais tudo que falta ao ser humano: uma beleza natural, uma coragem exemplar, uma dignidade extraordinária diante da morte, uma necessidade de sobreviver ao dia a dia sem fazer disso um comércio, uma fidelidade sem igual ao seu rebanho, a seus congêneres, sem precisar dividir suas terras e seus pertences. Além disso, eles são dotados de uma sabedoria diante das condições inumanas às quais nós os submetemos sem cessar.

No livro, você cita São Francisco, Virgem Maria (adoraria ver sua capelinha na propriedade de La Garrigue!) e Santa Brigitte... Como é sua espiritualidade? Faz algum ritual? Acredita que o espírito continua depois da morte?

Nutro um amor verdadeiro por aquela que chamo de “minha Pequena Virgem”. Mandei construir para Ela uma pequena capela à qual recorro quando preciso me recolher, acompanhada de meus cachorros, de meus gatos e de todos aqueles que querem me seguir. Um porquinho me acompanhou outro dia. É um lugar selvagem e próximo do mar: deixo meu pensamento voar, medito à minha maneira, permito-me ser invadida pela calma, pelo odor selvagem, pelos sons do mar. Eu me reabasteço, então, da coragem que às vezes me falta. A morte me dá medo porque ela é monstruosa, e eu só gosto do que é belo.

Uma das passagens mais comoventes de seu livro é aquela em que você se ajoelha e anda de quatro entre lobas. O que sua mente captou quando chegou tão perto delas?

Essa proximidade com as lobas foi um momento misterioso e inesquecível. Rodeada por seis lobas, eu estava no chão, na altura delas, e elas me farejavam. Uma delas até levou consigo as pequenas flores que enfeitavam meu coque. Estava fascinada. Teria gostado de ser uma loba.

Se ganhasse “muuuuuuuito” dinheiro na loteria, o que faria com o valor?

Eu o daria aos animais espalhados pelo mundo, salvaria os elefantes e os rinocerontes, as girafas, os gorilas e os ursos polares; compraria todos os cachorros criados para o abate na China e na Ásia; pagaria aos mercenários para que eles liberassem os animais dos laboratórios e aqueles criados <QL>para tirar proveito da sua pele; pagaria para demolir os abatedouros a fim de que eles desaparecem para sempre; libertaria os animais dos circos e dos zoológicos; esterilizaria os gatos e os cachorros de rua para evitar as reproduções em massa e as eutanásias desumanas; daria aos idosos um meio de terminar dignamente seus dias. Finalmente, antes de ser presa, me daria o prazer de tomar uma garrafa de champanhe brindando a todo o bem que teria feito.

O que você acha de zoológicos?

Os zoológicos são prisões para inocentes. Um universo carcerário frequentemente insalubre e estreito que leva <QL>os animais à loucura, privados de espaço e de companhias.

Como gostaria de ser lembrada, além de a deusa mais sexy do planeta?

A fada dos animais.

Como funciona a sua fundação de defesa dos animais e como podemos ajudar a mantê-la?

Minha fundação funciona graças a doações e heranças generosas de pessoas que confiam em mim, e elas são muitas. Eu mesma doei tudo à minha fundação. É a prova de honestidade e de entrega pessoal que incita as pessoas que acreditam em mim a fazer o mesmo. Não recebemos nenhuma subvenção.

Você vendeu todos os objetos de seu passado do cinema e de família para criar sua fundação. Valeu a pena?

Não me arrependo de nada. Todos os objetos de valor eram mera decoração e, desde então, eles deram lugar à vida, permitiram salvar vidas, e nada é mais precioso do que a vida.

Você acompanha a política mundial?

Sim, nós dependemos dos políticos, não temos nenhum poder além de denunciar as execuções dos animais. A política é extremamente importante, mas, infelizmente, de pouca ajuda, apesar de todos os esforços que já empreendemos mais de mil vezes nesse sentido.

Livro
Livro "Lágrimas de combate", de Brigitte Bardot Foto: Divulgação

 

Recentemente, você se reuniu com o presidente da França. Como foi seu encontro com Emmanuel Macron? Sobre o que conversaram?

Com Macron, assim como aconteceu com os precedentes, falamos de assuntos urgentes: os rituais de sacrifício muçulmanos e judaicos, sem a anestesia prévia à sangria, que se tornaram cotidianos nos abatedouros. A hipofagia, esse costume que, em pleno século XXI, ainda autoriza o abate dos cavalos para os açougues. Isso é uma vergonha, é como comer um cachorro. E, por último, a moagem de pintinhos, essas fofas bolinhas redondas que acabam de sair do ovo e são moídas vivas e a seco. É um suplício atroz a que são submetidos 50 milhões de pintinhos e 20 milhões de filhotes de ganso que viram foie gras, o que resulta em 70 milhões por ano.

Você acha que a raça humana vai se autodestruir ou mudar o nível de consciência?

Ela já começou a se autodestruir, e isso é bom, pois, desde que a humanidade começou a massacrar o planeta, é normal que ele queira sua revanche. Os furacões, os tsunamis, os incêndios florestais, as inundações, os terremotos, a seca, as ondas de calor etc. A demografia humana invade, destrói, se apropria de todos os territórios reservados aos animais, às florestas, às costas. É uma invasão bárbara que destrói toda a cadeia ecológica e que se autodestrói.

Acredita em vida inteligente fora da Terra?

É um mistério, um sonho, uma esperança.

No livro, você diz que daria sua vida em troca da paz aos animais. Quando entendeu isso pela primeira vez?

A minha vida não tem nenhum valor, mas a dos animais é essencial, então não resta dúvida.

Quantos bichos moram com você?

Todos os meus animais vivem comigo em La Garrigue ( propriedade de Brigitte Bardot nos arredores de Saint-Tropez ), devo ter por volta de uns cinquenta: cavalos, pôneis, asnos, cabras, carneiros, porcos, gansos, galinhas, galos, patos, cachorros, gatos, papagaios, tartarugas etc. Todos em liberdade.

Você sabia que existe um samba feito em sua homenagem, nos anos 1960, por Jorge Veiga?

É claro. E eu acho isso formidável! Que linda homenagem eu recebi. Sinto-me honrada. Obrigada! Obrigada!

O que achou da edição brasileira de “Lágrimas de combate”?

Eu acho a capa com a loba muito bonita. Do que está escrito eu não entendo muita coisa. Mas o importante é a mensagem que eu pude transmitir a vocês todos.

E, para terminar, com todo o respeito e todo o amor: “Voulez-vous coucher avec moi, ce soir”? (Citação de Rita da música “Lady Marmalade”, de 1974, que significa “Você quer dormir comigo essa noite”?)

Sim, mas você tem que se apressar! Já está tarde, e eu durmo cedo. Muitos beijos, repletos de amor, a todos os brasileiros que tanto amo.


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